IPUEIRA
Wellington Antônio Aguiar
Se não tem mais sol fugindo
Enfiando a tarde atrás da serra
Tem o rio que vai seguindo
Molha o peito, molha a terra
Vento quente sopra forte
Faz a rima do meu verso
Essa dor que se aporte
No meu porto submerso
Cadê meu pai lá na varanda
Assuntando o tempo com o olhar
Laço forte está de banda
Sem ter mais o que arrochar
Rapa a cuia, Manezinho
É o leite que sobrou
Lambe os dedos, rapazinho
Que a farinha acabou
Cheira forte, ô madeira,
Vaca geme lá na sanga
Sopra brisa a vida inteira
Noite cheira a cheiro de pitanga
Boi cruel sumiu no ermo
Pedro Congo se assustou
E põe a sua jura a termo
Pra contar que o boi voou
Minha mãe mexendo o tacho
Doce de fumaça, sim senhor
O pito morto atrás do cacho
Pra dizer que não pitou
Rapa a cuia, Manezinho
É o leite que sobrou
Lambe os dedos, rapazinho
Que a farinha acabou
Meu irmão lá na cozinha
Mede a estrada que o levou
Tira a rosca, tia Binha
É a saudade que ficou
Canta, chora juriti
Seu lamento faz doer
É que a vida foi simbora
Nunca mais veio me ver
Corta a carne, o peito invade
Não sei de outra maneira
Dou as costas pra saudade
Vou pescar na ipueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário