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segunda-feira, 12 de setembro de 2011


Páginas



                                                                          Wellington Antônio Aguiar



Sei que fui jovem, quando cobro do espelho a mesma juventude que vejo em minhas fotos.

Sei que sou um homem que vê a estrada cada vez mais curta, quando aquele mesmo jovem também compartilha a espera da paz que faz tudo valer a pena.
Sei que há uma paz a ser perseguida, porque existe um desejo de olhar para trás e ver as pegadas que deixei.
Sei que as pegadas estão lá, porque caminhei desertos, guiado apenas pelos olhos de quem amei e que amo.
Sei que amo, porque, às vezes, a distância machuca e sinto dores que não são minhas.
Sei das dores, por ser tão bom quando passam.
Sei de mim, metade ansiando pelo reviver. A outra metade celebrando o que já viveu.

Sou quem já teve muita vida e fez pouco em tanto tempo e agora sonha em fazer tanto, em tão pouco tempo.   
  
 

                                                                                                              Coromandel, 30 de novembro de 2012 




Um pai

                                                                                                    Wellington Antônio Aguiar

Caminhar na água
Não marca a trilha,
Molha os pés.
Sabe que esteve ali.

Mão com mão
Sua a mão.
A sua mão
Na mão de pai.
Meu pai.

Se quase perto
Dele agora estou,
Dói mais
A falta que me faz.

O pó do tempo
Cheira a pó.
Lembranças se revelam
Na ausência turva
Que se curva
Ao sempre,
Então, finito.

Sobras do vai e vem
No coração pensante.
Cabeça não sabe
Ver de novo
Ovo frito posto à mesa
Pra seu Tonho comer.

Palavras cruzadas
Riscadas em jornal,
Contam histórias
De um livro só.

A vida não tem
Páginas em conta certa
Pra mais de um Varjão,
Onde meu pai pisou.
A dor não consome
O ser que sou: sou o ser
Que seu Tonho deixou.

                                                                                                          Coromandel, 10 de setembro de 2011

NENA

                                                                  Wellington Antônio Aguiar

Sabiá não cantou triste.
Meu peito entristeceu a cantiga.
Era um sinal: houve a partida.
Sabiá não canta a dor.
Canta a estação. Qual?
A primavera de cada dia,
A mão trazendo a fruta.
Sabiá não cantou adeus pra mão amiga.
Fiz do seu canto ausência.
Agora, raiz em mim.
As sombras das copas do quintal
Estão tão noites... Não olho mais.
Preciso de uma estrada longa.
Sabiá, não cante assim.
O vento sopra,
Emprenha a vela,
Meu barco não vai.
Estarei outra vez ao teu lado?
A eternidade é logo ali...
Tantos filmes pra ver,
De livros pra falar.
Tem outro alguém no mundo
Com “Dos Gardenias” para mim,
Na minha chegada?
Quer saber, sabiá, cante!
Ainda que seja só inveja
Da curruíra que ganhou
Chalé só dela na parede da varanda.
Cante, sabiá, cante!
Não a dor que sinto.
Cante pela noite que chegou,
Sem que o dia se acabasse.