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segunda-feira, 4 de março de 2013



TRADUZA

                                              Wellington Antônio Aguiar

Minha poesia é difusa
Foge de mente confusa
Vigia a rima obtusa
Pincel longe da musa

Meu canto não lembra Cazuza
Violão sem pulso desusa
Descaminho que tropeça e acusa
Não há olho naquela medusa
Para: é o coração que abusa
Açoitando um lado da blusa
Recorta a distância, essa deusa
Torce a esperança, parafusa
Na grade do amor se recusa
Seu corpo não sabe minh’alma reclusa

                                                                                 Coromandel, 2010

segunda-feira, 12 de setembro de 2011


Páginas



                                                                          Wellington Antônio Aguiar



Sei que fui jovem, quando cobro do espelho a mesma juventude que vejo em minhas fotos.

Sei que sou um homem que vê a estrada cada vez mais curta, quando aquele mesmo jovem também compartilha a espera da paz que faz tudo valer a pena.
Sei que há uma paz a ser perseguida, porque existe um desejo de olhar para trás e ver as pegadas que deixei.
Sei que as pegadas estão lá, porque caminhei desertos, guiado apenas pelos olhos de quem amei e que amo.
Sei que amo, porque, às vezes, a distância machuca e sinto dores que não são minhas.
Sei das dores, por ser tão bom quando passam.
Sei de mim, metade ansiando pelo reviver. A outra metade celebrando o que já viveu.

Sou quem já teve muita vida e fez pouco em tanto tempo e agora sonha em fazer tanto, em tão pouco tempo.   
  
 

                                                                                                              Coromandel, 30 de novembro de 2012 




Um pai

                                                                                                    Wellington Antônio Aguiar

Caminhar na água
Não marca a trilha,
Molha os pés.
Sabe que esteve ali.

Mão com mão
Sua a mão.
A sua mão
Na mão de pai.
Meu pai.

Se quase perto
Dele agora estou,
Dói mais
A falta que me faz.

O pó do tempo
Cheira a pó.
Lembranças se revelam
Na ausência turva
Que se curva
Ao sempre,
Então, finito.

Sobras do vai e vem
No coração pensante.
Cabeça não sabe
Ver de novo
Ovo frito posto à mesa
Pra seu Tonho comer.

Palavras cruzadas
Riscadas em jornal,
Contam histórias
De um livro só.

A vida não tem
Páginas em conta certa
Pra mais de um Varjão,
Onde meu pai pisou.
A dor não consome
O ser que sou: sou o ser
Que seu Tonho deixou.

                                                                                                          Coromandel, 10 de setembro de 2011

NENA

                                                                  Wellington Antônio Aguiar

Sabiá não cantou triste.
Meu peito entristeceu a cantiga.
Era um sinal: houve a partida.
Sabiá não canta a dor.
Canta a estação. Qual?
A primavera de cada dia,
A mão trazendo a fruta.
Sabiá não cantou adeus pra mão amiga.
Fiz do seu canto ausência.
Agora, raiz em mim.
As sombras das copas do quintal
Estão tão noites... Não olho mais.
Preciso de uma estrada longa.
Sabiá, não cante assim.
O vento sopra,
Emprenha a vela,
Meu barco não vai.
Estarei outra vez ao teu lado?
A eternidade é logo ali...
Tantos filmes pra ver,
De livros pra falar.
Tem outro alguém no mundo
Com “Dos Gardenias” para mim,
Na minha chegada?
Quer saber, sabiá, cante!
Ainda que seja só inveja
Da curruíra que ganhou
Chalé só dela na parede da varanda.
Cante, sabiá, cante!
Não a dor que sinto.
Cante pela noite que chegou,
Sem que o dia se acabasse.

sábado, 14 de maio de 2011

Errante


                                                                            Wellington Antônio Aguiar


Hoje,
Acredito em espera.
Quem me dera,
Acreditasse antes.

Migalhas de tempo
Não são mais gigantes.
A ânsia ainda compassa
Meu arfar errante
E solta nós de barbante.

Sem vento,
Meu barco vai.
A vela não infla
E, mesmo assim,
Eu vou lá...
Lá vou eu...
Meu barco não para,
Enfim.

Medo valente


                                              Wellington Antônio Aguiar
Duas vezes sem ser
Uma noite sem cor
Dois sonhos sem pudor
Uma asa de  pena
Tem pena da asa
Que nem sabe voar
Pousa em ternura
Galhos de amargura
Afoga-se  em suor
Valente, cisma com o dia
Espera a noite para gritar
Na ânsia, de novo o rancor
Esconde a espera no ar
Cale-se! É hora da dor
Sopra, cuida do peito
Alisa saudade,  esse pelo
Mira um só olho no amor

terça-feira, 10 de maio de 2011

Diáfana

                                Wellington Antônio Aguiar

Deus, é assim que desejo,
Vejo, almejo esse amor.
Mas, lá está
Disperso no ar,
A me rodear,
Sem nunca tocar.

Busco uma figura humana
Pra vestir tal diáfana
Esse amor encarnar

Tenho o quis
Tenho o sim
Tenho não
Tenho o ai de prazer

Tenho o fiz
Tenho o fim
Tenho o chão
Tenho o que hei de fazer?

Quem trouxe esse amor
No meu ser misturou
Dando único sabor
A tudo isso que sou?

Me deu tontura de amar
A secura de arfar
No meu suor se embebeu
Ais de gozo, gozo a mais
Na distância se faz
Não houve sequer um adeus

Silêncio que fere
Não conta o porquê
Chegue e altere
Todo o meu padecer

A saudade me enlaça
Sua faca trespassa
Esse meu bem querer

Saudade espessa
Da minha dor inquilina
A solidão se confessa
E mesmo que acabe, essa dor não termina

Tenho o quis
Tenho o sim
Tenho o não
Tenho o ai de prazer

Tenho o fiz                   
Tenho o chão
Tenho o fim                               
Tenho o que hei de fazer?