Páginas
Wellington Antônio Aguiar
Sei
que fui jovem, quando cobro do espelho a mesma juventude que vejo em minhas
fotos.
Sei
que sou um homem que vê a estrada cada vez mais curta, quando aquele mesmo jovem
também compartilha a espera da paz que faz tudo valer a pena.
Sei
que há uma paz a ser perseguida, porque existe um desejo de olhar para trás e
ver as pegadas que deixei.
Sei
que as pegadas estão lá, porque caminhei desertos, guiado apenas pelos olhos de
quem amei e que amo.
Sei
que amo, porque, às vezes, a distância machuca e sinto dores que não são
minhas.
Sei
das dores, por ser tão bom quando passam.
Sei
de mim, metade ansiando pelo reviver. A outra metade celebrando o que já viveu.
Sou
quem já teve muita vida e fez pouco em tanto tempo e agora sonha em fazer
tanto, em tão pouco tempo.
Coromandel, 30 de novembro de 2012
Um pai
Wellington Antônio Aguiar
Caminhar na água
Não marca a trilha,
Molha os pés.
Sabe que esteve ali.
Mão com mão
Sua a mão.
A sua mão
Na mão de pai.
Meu pai.
Se quase perto
Dele agora estou,
Dói mais
A falta que me faz.
O pó do tempo
Cheira a pó.
Lembranças se revelam
Na ausência turva
Que se curva
Ao sempre,
Então, finito.
Sobras do vai e vem
No coração pensante.
Cabeça não sabe
Ver de novo
Ovo frito posto à mesa
Pra seu Tonho comer.
Palavras cruzadas
Riscadas em jornal,
Contam histórias
De um livro só.
A vida não tem
Páginas em conta certa
Pra mais de um Varjão,
Onde meu pai pisou.
A dor não consome
O ser que sou: sou o ser
Que seu Tonho deixou.
Coromandel, 10 de setembro de 2011